(Obs.: A foto é de uma plantinha brotando sobre um tronco de árvore feito de mesa, que aparece dois posts atrás. Sábias delícias da natureza)
Leio diariamente todas
as chamadas notícias ruins do país.
É meu trabalho.
Árduo para alguns.
Essencial e recompensador pra mim.
Ontem, uma amiga de outra área do jornal
me procurou à tarde e me convidou para
darmos um tempinho na lanchonete
do meu andar, ponto de encontro e
local de alguns minutos de relax
(se é que se pode dizer que isso é
possível em uma redação de jornal).
Por causa do horário, em que eu já
começava a fechar páginas do dia
seguinte (hoje), disse à minha amiga
que não poderia ir com ela à
lanchonete.
Ao olhar para o site aberto à
minha frente, em uma notícia
de crime, ela soltou rapidinho:
'Como não pode se você está aí
lendo notícia ruim na internet?'
Parei e fui explicar a ela que aquele
era exatamente o meu trabalho:
passar o dia filtrando notícias mais
importantes, já que o espaço de papel
do jornal é limitado, para publicá-las
no dia seguinte.
Enfim, com todo esse relato eu quis
chegar a algo que tem me incomodado
e me intrigado nos últimos dias - e que
já me tirou o sono em outras ocasiões
da minha vida profissional.
Estamos em uma fase no país em que
os crimes passionais parecem ter se
multiplicado e estão mais cruéis
a cada dia.
Os homens, principalmente, matam
suas companheiras ou ex com facilidade
assustadora e maldade requintada.
Quase sempre, por motivos torpes, que
poderiam ter sido minimizados com a
separação na hora certa.
Com o reconhecimento de que
ninguém é de ninguém.
O que mais tem me chocado, no entanto,
é que crianças e adolescentes têm estado
metidas nisso injustamente e
sempre como vítimas.
Aí, me pergunto - e não me venham, por
gentileza, responder sem conhecimento
de causa - se nós, da mídia, começamos e
incentivamos isso ou somos apenas
instrumento de divulgação de uma
triste realidade que se avoluma,
incentivada pela desigualdade social,
pelo desemprego, pelas vergonhosas
barreiras no acesso à educação e por
tantas outras mazelas para as quais
fechamos os olhos, o coração e a alma.
Essa pergunta é muito complexa, mas acredito que a mídia tem o poder de agir dos dois modos, pois tanto pode influenciar como também mostrá-los.
ResponderExcluirESSA pergunta é muito difícil de se responder.