Gente que veio, gostou e sempre que pode dá uma passadinha por aqui

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

311) Você me faz feliz!

Foto Lugoca


Ei, você!


Sim, você aí,
Você aqui,
agora.
Você que me lê,
mas não me vê,
tenho tanto a lhe dizer,
há em mim um bem-querer,
por você,
pode crer,
é sincero.

O que você me dá
não tem preço,
mas tem endereço:
é aqui!

Você vem
e me faz bem,
me dá carinho
neste meu ninho
tão pequeninho,
tão singelinho,
me faz feliz
e eu,
aprendiz,
fico maior
com o que me diz,
com o que me traz.

Repito: Você me faz feliz!


P.S.: A todos vocês que me visitam aqui, de coração!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

310) Felicidade

Foto Lugoca



Era um pé de planta,
de flor
– pra ser mais exata –,
desses que povoam
meus sonhos
e minha casa.
Povoaram minha infância.
Sim, povoaram.
Porque planta
é que nem gente:
respira,
troca carinho,
ocupa espaço,
povoa.

Era um pé de alguma coisa
colorida e perfumada,
diferente de minerva,
que me avisava: Carpe diem,
que a felicidade
é próxima
e simples.
É agora,
aqui,
pequena,
passageira,
mas existe.

sábado, 23 de outubro de 2010

309) Aberta

Foto Lugoca


O vento me envolveu
e sugeriu que o deixasse
varrer meus recantos,
abrindo espaço em mim
pra acolher mudanças,
novos e leves encantos.


Eu
aceitei.


Espero brisa
me cheirando a nuca,
orvalho me lambendo
os ombros
e sereno
me molhando toda.


Abri a guarda
e tudo o mais
para as delícias
que a vida vem oferecer.


 
 
 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

308) Presentes




Fotos: Lugoca


Ganhei de presente
um dia ensolarado,
pudim de leite condensado
e colcha de retalhos
com bordados.
Tudo feito por mãos
que me amam.

Ao abrir os olhos
e as janelas,
o presente divino
me invadiu íris e retina.

Mãos amigas
prepararam o pudim
- que, sei, quer adoçar o meu dia -
e outras tão lindas
juntaram os retalhos.

Sinto falta
da voz de Lia
- ainda que só ao telefone - ,
dizendo que me amava
e me desejando coisas
que só mãe faz de verdade.







quarta-feira, 20 de outubro de 2010

307) Sanidade

Mais um por do sol em BH, no Bairro Mangabeiras, Zona Sul
Foto Lugoca


Na sofreguidão do toque
a cumplicidade do sonho
e a beleza das bocas,
com gosto de línguas,
limite de falas
e pressa.

Na extremidade dos olhos,
febre,
brilho
e duas cores.

Delírio nos cílios
pesados
e escuridão
no avesso do quarto.

Nos poros sedentos,
um imã inútil,
tolo,
lento
e com cara
de esconderijo. 

domingo, 17 de outubro de 2010

306) Esquecer


Belo Horizonte vista de um mirante na Zona Sul chamado Caixa D'Água 
Foto Lugoca


Se alguém domina
a arte de esquecer,
que a solte aos quatro ventos,
pra que possa eu saltar
e prendê-la no meu centro,
e que eu tente planar,
como fosse ela brisa,
pra deixá-la me levar.
Que eu ouse pular nuvens,
pra buscá-la no infinito,
esteja onde estiver,
em lugar feio ou bonito.
Esquecer aquela fúria,
misturada a calmaria,
que tinha sabor de sempre
e cheiro de todo dia.

sábado, 16 de outubro de 2010

305) Esperança em mim

Foto Lugoca




Dentro de mim vive um anjo
a quem chamo Esperança,
que alça voos pelas noites,
e faz visitas distantes,
levando toque leve de asas
a leitos entregues aos sonhos.
Um anjo imortal,
de sombra azul,
feito o céu em dia bom,
feito o mar renovado
e os olhos que quero de volta.

 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

304) Aço

Foto Lugoca



Quero invasão
de amigos num abraço,
abrigo pra o cansaço,
apoio pra o que faço,
que sigas os meus passos,
recolham meus pedaços,
ocupem meus espaços,
respeitem o que traço,
relevem se ‘embaço’,
astúcia quando caço.
Contigo quero um laço.

 
 
 

terça-feira, 12 de outubro de 2010

303) Doces delírios

Montanhas da Serra da Moeda, em Brumadinho, Região Metropolitana de BH

Foto Lugoca



Tenho montanhas
no coração
e flores na palma da mão.
Sonho em atravessar a rua
e molhar os pés no mar,
Em hipnotizar a Lua
e vê-la rodopiar;
Com a vida nua e crua,
pra eu podê-la moldar.
E surpreender o Sol
antes de ele te encantar.


 
 
  Obs.: Experimente olhar as montanhas e curtir a música do Teatro Mágico
 

domingo, 10 de outubro de 2010

302) Pretensão

Pôr do Sol no Topo do Mundo, Serra da Moeda, Brumadinho (MG)  
Foto Lugoca


Desde que você surgiu,
alguma coisa mudou.
Não me pergunte o quê,
porque não vou lhe dizer.
Você pode não querer saber.
Ou não me compreender.
E botar tudo a perder.
Dá pra sentir, se quiser.
Nos meus ardis de mulher,
que, mesmo de longe,
lhe quer.
Quer lhe mostrar que o amor
tem muitas formas de ser
sem ter que tanto doer.
Que há outros braços,
abraços,
amassos,
espaços
no coração pra você.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

301) Flerte

A majestosa Lua na Serra da Moeda, Região Metropolitana de BH

Foto Lugoca




Fui eu quem invadiu o seu lugar,
naquela rua que tem nome de poeta
- como a maioria das ruas daqui.
Quando cheguei, você já estava há meses,
há anos, não sei bem.
No primeiro contato, senti seu olhar sobre mim,
de leve, mas fiz de conta que não era comigo
- eu tinha companhia lá fora
e a última coisa que precisava era arranjar confusão.
Como não correspondi, as coisas seguiram seu rumo.
Eu indo todos os dias à rua com nome de poeta,
onde você desfilava um charme quase irresistível
- não fosse minha convicção de querer ficar longe de confusões
e a lembrança de que alguém me esperava lá fora.
Os dias corriam e corríamos quilômetros lado a lado,
você e eu, transformando suor em colágeno,
proximidade em desejo,
olhares em tentação.
E eu resistia e insistia na ideia de que
o melhor a fazer era ficar quieta,
tentar resgatar o que achava que tinha,
mas balançava, me esperando lá fora.
Mas você invadia o espelho à minha frente,
parecia querer ser a minha imagem refletida nele.
Surgia em todos os lugares para os quais eu fugia.
Falava alto pra chamar minha atenção.
E, de repente, falava comigo,
me mostrava que estava ali,
deixava claro que queria contato,
proximidade.
Algum laço?
E fui ficando confusa. Me sentindo adolescente.
Achei melhor conversar comigo:
- Peraí. Que coisa é esta? Tô ficando maluca
ou voltando no tempo?
Antes de tudo, parei de deixar alguém me esperando lá fora.
E, ainda assim, ao retornar à rua com nome de poeta,
voltei ressabiada, sem um resultado concreto
da conversa comigo.
E lá estava você.
Diante do meu medo, da minha confusão.
Sua transparência atraía todos os olhares, atenções, admirações
e isso me assustava.
Sua beleza forjada a persistência, paixão e juventude
me encantava.
Decidi tirar a limpo.
Mudei meus horários. Mudei tudo.
Passei a madrugar para chegar à rua com nome de poeta.
Pensei:
- Você não vai acordar cedo,
depois de ensinar até tarde da noite,
para me ver... (?)
Você nunca acordava. Eu já sabia.
Cheguei tranquila, sem a ansiedade
de todos os últimos dias,
certa de que não enfrentaria o turbilhão de sensações
que me invadia na sua presença.
Comecei algumas atividades e
me dirigi a um espaço privado.
De repente, dou de cara com você
me expondo um enorme poema tatuado nas costas.
Que eu jamais imaginei que existisse ali.
Que me encantou e emudeceu, ao mesmo tempo.
Você sorriu, falou algumas coisas que nem ouvi direito,
mas, ainda assim, respondi.
Na verdade, balbuciei, com meus braços
tocando os seus.
Mas não me atrevi a ler o poema.
Me faltou coragem.
Avisei que voltaria às minhas atividades,
você me seguiu, depois de se recompor,
e me olhou pelo espelho por algum tempo.
Na despedida, piscou de um jeito bom.
Como o endereço da rua com nome de poeta é seu,
sempre pensei não ser o único alvo dessas
abordagens deliciosas.
Por isso tremia, me segurava, temia.
Mas persistia.
Não sou de correr da raia,
de fugir de mim,
de não pagar pra ver.

Então, você ousa total e me convida
pra um programa na sexta.
Eu me surpreendo e a resposta não sai.
Você refaz o convite e chama pra um cinema.
Me lembro da poesia tatuada nas costas,
que ainda não li.
- Ok, vamos ao cinema!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

300) Inteira


Foto Lugoca



Meus batons,
unhas feitas,
banhos de espuma,
perfume francês,
coleções de anéis;
meus decotes,
saias ao vento,
olhos que riem,
bilhetes de amor,
mesas com flor,
surpresas diárias...

não são pra você.


Meus gemidos lentos,
beijos compridos,
sarros no tapete,
gozos repetidos,
planos de viagem,
de morar no mato,
de durar pra sempre...

não são com você.



Anos de terapia,
horas na academia,
massagens relaxantes,
compras revigorantes...

não são por você.



As noites sem sono,
porres de vinho,
o calor do ninho,
lençol de linho
e a cama cheirosa,

menos ainda,
são por você.

Sua vez já passou.


 
 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

299) Será?

Arquivo pessoal





A tática era beijar meus pés,
como o amor se traduzia
na rotina gostosa dos velhos tempos,
mas eram meus lábios que queriam
o comando,
e latejavam, sedentos,
prevendo ser regados,
ao meu modo,
com duas íris dilatando, antes,
pontas de dedos se tocando, lentas,
decididas,
proximidade que mistura hálitos,
acelera tudo,
respirações se confundindo,
a duas peles de distância.
Então,
um leve roçar de bocas,
horizontal,
e se amassam fortes,
se perdem,
se invadem,
misturam línguas,
salivas,
seus céus...

 
 
 

domingo, 3 de outubro de 2010

298) Segredos




Dentro de mim
uma criança inquieta
teima em ser
e eu não a reprimo.
Ela quer banhos de chuva,
fruta apanhada do pé,
pés coloridos de terra vermelha,
cabelos ao vento,
gargalhadas de cócegas,
andanças sem rumo,
corre-corre nas ruas
e sonhos e sonhos.

Ela ainda sente o hálito
da avó ao assoprar a
casa de palha de um dos
três porquinhos fujões.
Ainda tem arrepios
ao se lembrar do lobo,
hoje bobo feito ele só.

Fecha os olhos e
se deita com os primos
sob as mangueiras.
Tenta abri-los e eles estão
travados pela lembrança
das capetices que atraíam
marimbondos, inchaços, dores
e uma alegria incontida por
ter tudo isso guardado
em um lugar que é só dela.




Praça da Estação, patrimônio histórico, no Centro de Belo Horizonte
 Foto Lugoca

sábado, 2 de outubro de 2010

297) Por mim


Madrugada de sábado. Avenida do Contorno com Rua Professor Morais, em BH
Foto Lugoca





Andei me culpando por abandonar a poesia,
minha eterna companheira,
que sempre me encheu de esperanças
e energizou momentos difíceis.
Pensei ter endurecido o coração
e fechado a ela as portas da alma.
Mas, em um lampejo de lucidez
em meio ao caos, percebo,
nos mínimos detalhes,
que não nos abandonamos:
nem eu a ela nem ela a mim.
A poesia está nas minhas plantas,
nas minhas flores,
no sol que deixo entrar pela casa
ou se põe diante do meu olhar.
Está nas cores que espalho por aqui,
no amor que dedico ao trabalho,
por acreditar que ele muda o mundo
em pitadas.
Na esperança, ainda que espremida
no cantinho do coração,
de que há muito a caminhar
e aprender.



P.S. : Acredito que o poeta, assim como o ator,
encarna todo e qualquer personagem, independentemente
de sexo, raça ou qualquer outra característica que o
diferencie.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

296) Coragem

Fotos: Lugoca



Quando ela disse que
não abria mão da outra,
eles, que também 'eram' de outras,
mais pareciam vulcões,
a ponto de botar pra fora
toneladas de lavas,
que as aqueceriam menos
que seu gozo efêmero.

Quando elas se abraçaram,
eles se desmancharam em vaias
e assobios baratos
- daqueles que se ouvem nas esquinas
apropriadas por desocupados.

Na hora do beijo, então,
foi que eles não se aguentaram,
no seu fardo de másculos e viris,
sem se conformar com o prazer alheio.