Foto Lugoca
Nas minhas caminhadas
de casa até o trabalho,
costumo cumprimentar
algumas pessoas que venho
encontrando pelo caminho
há quatro anos.
Viraram conhecidos que já
fazem parte do meu dia-a-dia
e com os quais cruzo olhares e
troco sorrisos inevitáveis.
Ao longo da Rua Ceará,
porteiros e vigias de prédios
me dão bom dia, boa tarde,
boa noite.
Na esquina da Ceará com
Santa Rita Durão - nome daquele
inconfidente poeta, que muita
gente jura ter sido uma santa -,
há um senhor, de cabelos brancos
e casaco vermelho, com quem
troco algumas palavras todos
os dias, como se fosse meu velho
conhecido. Ultimamente, ele
até arrisca uns gracejos, ao que
respondo com um sorriso de
quem não está entendendo.
Tem também o engraxate da
Praça ABC, outro senhor, que,
além de cuidar dos sapatos de
quem passa, conserta aquelas
cadeiras de palhinha (ou coisa
parecida). Ele é menos bem
humorado do que o outro, de
casaco vermelho. Às vezes, fico
até tentando imaginar o motivo
de tanta tristeza. O que não é
muito difícil, já que, definitivamente,
velhice e luta pela sobrevivência
não combinam nunca.
E tinha a Iracema - uma mulher
com aparência de 60 anos, mas
que deve ter pouco mais de 40 -,
catadora de papel que dormia na
esquina da Ceará com Afonso Pena.
Foi pra ela que dei a blusa de lã
cinza que herdei da vovô Luisa.
Ao atravessar a Afonso Pena, já
na Getúlio Vargas, encontro o
moço que troca bateria de relógio
e vende algumas bugigangas. É uma
das pessoas mais atenciosas que já
conheci. Aborda todo mundo que
passa com um cumprimento.
Um marqueteiro nato, mas sem
intenções escusas.
Tudo gente. Todos querendo um
minutinho de atenção, de felicidade.
Na verdade, me pego, muitas vezes,
cumprimentando gente que nunca
vi antes. Tenho mania de andar
por aí encarando as pessoas, como
se fosse cumprimentá-las. Às que
correspondem, mando logo um
"tudo bem?", que
nunca é mal recebido.
Coisas de gente verdadeira.