Foto Lugoca
Gosto tanto de escrever quanto de ler.
E admiro aqueles que usam o espaço que têm na mídia, invasora das nossas vidas, para tentar abrir nossos olhos para a essência de viver.
É por isso que tomo a liberdade de reproduzir em seguida parte de um belo texto do cineasta Arnaldo Jabor sobre felicidade, publicado dia 23 de outubro, no jornal 'O Globo'. Vale a pena ler.
"Antigamente, a felicidade era uma espécie de 'missão' a ser cumprida, a conquista de 'algo maior' que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o 'sacrifício', a renúncia, a luta contra obstáculos. A idéia de que a felicidade se 'constrói' ficou para trás. Hoje, felicidade é ser desejado.
A idéia de felicidade não é mais interna, como a dos monges, ou a calma vivência do instante, ou a visão da beleza. Felicidade é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar alguém a ser consumido. Felicidade é ter um bom funcionamento. (...) Hoje, nós somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liqüidificador. Assim como a mulher deseja ser um eletrodoméstico, um 'avião', peituda, bunduda, o homem quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador sem flacidez e angústias. Confundimos nosso destino com o destino das coisas...
Felicidade não é mais lenta ou contemplativa - é velocidade.
O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos imprimiu um ritmo incessante, uma gincana contra a idéia da morte ou da velhice, melhor dizendo, contra a obsolescência do produto ou a corrosão dos materiais.
Somos 'felizes' dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, bagatelas, mixarias. Uma alegria para nada, para rebolar o rabo nas revistas, substituindo o mérito pela fama.
Esta infantilização da felicidade pela mídia se dá num mundo em parafuso de tragédias sem solução, como uma disneylândia cercada de homens-bomba.
Não precisamos fazer ou saber nada, o sujeito só existe se aparecer".
Acho que ele andou lendo a obra mais recente de Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês e "teórico da modernidade". As idéias dele sobre a liquidez da modernidade, da vida, do amor e de nossa era são bastante pertinentes. Recomendo.
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