Foto Lugoca
Chega um tempo em que não se diz mais:
meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões
dentro dos edifícios provam apenas
que a vida prossegue e nem todos
se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
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ResponderExcluirOi Lu,
ResponderExcluirTudo bem com vc? Comigo está tudo bem.
Que texto bonito!! Aliás estou na ousadia dando "aquela expiadinha" no seu blog.
Gostei muito do texto em que cita que a vida é sempre um aprendizado.E concordo com vc...não sabemos nada!!
Estou tentando aprender, com tudo que ouço, vejo e vivo.E buscando sempre levar uma vida mais leve...
Abraços Ana Paula
Sinto pela sua mãe,força sempre.